sexta-feira, 29 de junho de 2007

Viagem a Cap-Haitien e a recepção calorosa dos trabalhadores

A nossa delegação saiu por volta das 8 horas da manhã (horário local), desta sexta-feira (dia 29), de Porto Príncipe em direção a Cap-Haitien. Havia muita expectativa entre os companheiros e companheiras que formam essa missão de solidariedade e, acima de tudo, luta pela retirada das tropas brasileiras do país.

Foram 230 quilômetros de estradas esburacadas, sete horas de uma cansativa viagem e imagens que marcam: crianças em condições miseráveis, pessoas tentando ganhar algum dinheiro vendendo coisas ou alimentos na rua, famílias tomando banho nos rios, lavando suas roupas neles e o esgoto a céu aberto muito próximo às moradias locais.

Em alguns momentos, o contraste ficou por conta da visão de grandes mansões e o belíssimo Mar do Caribe.

Apesar da grande situação de pobreza, fruto da exploração capitalista, algo é comum no rosto do povo haitiano. Invariavelmente, nas suas feições, demonstra-se uma alegria que parece-me inexplicável.

É um povo lutador, sem margem de dúvida. Creio que sua história deve servir como exemplo aos brasileiros. A própria expressão que eles utilizam quando perguntados como estão revela muita coisa. “Nap kenbe fein”, dizem eles. Na tradução para a língua portuguesa, seria algo como “estamos resistindo firmemente”.

No desviar dos buracos da estrada, vimos várias bases da Minustah, a missão da ONU que, sob o comando do Brasil, oprime este povo.

Das janelas do ônibus, cada membro da delegação teve a sua própria experiência com a triste face da pobreza. A minha foi a de olhar nos olhos das crianças à beira do caminho. Um olhar penetrante, que, embora muito receptivo, denuncia o que é desigualdade.

ENCONTRO COM OS TRABALHADORES
Na chegada a Cap-Haitien, um auditório, tomado por 400 trabalhadores, esperava a chegada de nossa delegação. Os companheiros, vínculado à organização “Batalha Operária”, nos recebeu com cantos operários.

Um deles, em creole (língua da maioria do povo), dizia: “Saudações. Aqui não tem patrão. Aqui não tem burguês”.

Trabalhadores rurais, sem-terra, do setor de educação e de empresas como a Coca-Cola e a cervejaria Prestigie formaram o público que tão calorosamente nos recebeu. Toda a delegação foi apresentada. A “Carta ao Povo do Haiti”, documento que se opõe a ocupação militar comandada pelo Brasil, foi lida e muito aplaudida pelos presentes.

No final do encontro, quase ao anoitecer, os trabalhadores brasileiros e haitianos dançaram juntos ritmos haitianos.

(Foto: Rodrigo Correia)

Delegação atravessará o Haiti rumo à cidade da vitória da revolução negra

Nesta sexta, a delegação da Conlutas começa uma viagem dentro do Haiti, para conhecer mais de sua história, sua gente lutadora e a exploração capitalista na nação mais pobre das Américas.

Já foi combinado que saíremos por volta das 6 horas da manhã, do horário local, rumo a Cap-Haitien, que fica na costa norte do Haiti. Cap-Haitien, que significa “Cabo Haitiano”, é a segunda maior cidade do país.

Para chegar até lá, saíremos de onde estamos, a capital Porto Príncipe, e atravessaremos o país.“Serão pelo menos cinco horas de viagem”, nos alerta Didier Domenique, da organização local “Batalha Operária”, que nos recebe nesta viagem de solidariedade.

No caminho, vamos parar para conversar com os trabalhadores rurais e conhecer de perto um pouco de sua realidade. Nas janelas do ônibus, emprestado pela universidade da capital, veremos imagens de um povo que carrega no seu DNA as características de guerreiro e lutador.

Não sabemos como será o acesso à telefonia nem tampouco à internet em Cap-Haitien. Se já estamos com imensa dificuldade em alimentar o blog por questões estruturais em Porto Príncipe, pode ser que o desafio seja ainda maior nos próximos dias. Por isso, se o blog demorar a ser atualizado, entendam nossa dificuldade, companheiros e companheiras.

ProgramaçãoNa sexta à tarde, já em Cap-Haitien, devemos falar com os trabalhadores em um auditório da cidade.

No sábado, vamos à “Citadelle”, forte construído pelos escravos depois da revolução de 1804. No mesmo dia, vamos à zona franca de Ouanaminthe. Lá, veremos a realidade dos trabalhadores que são explorados de forma análoga à escravidão. Nas zonas francas, funcionam as chamadas “maquiladoras”, multinacionais que recebem grande isenção de impostos e, em contrapartida, não oferecem aos seus trabalhadores quase nenhum direito trabalhista. Pelo contrário: são recorrentes os relatos de casos de agressão de trabalhadores, inclusive gestantes, e perseguição violenta aos líderes sindicais.

Este, na verdade, é o grande projeto que a ocupação militar da ONU quer perpetuar: tornar o Haiti uma grande zona franca, com mão-de-obra miserável e muitos lucros aos grandes capitalistas.

Na noite de sábado, deveremos voltar à Porto Príncipe.

Até breve (faltam poucas horas para partirmos)!

quinta-feira, 28 de junho de 2007

Delegação diz ao presidente do Haiti que tropas devem deixar o país

Foi no Palácio Nacional do Haiti, na manhã desta quinta-feira, que ocorreu a reunião entre a delegação da Conlutas que visita o país e o presidente do Haiti, Réne Préval.

Entregamos ao presidente a "Carta ao Povo do Haiti", documento que pede a saída das tropas estrangeiras, sob o comando do exército Brasil, do país caribenho.


Preval chegou a agradecer a solidariedade, mas citou que a presença das tropas seria algo necessário por conta da presença do narcotráfico no país.


Nossa delegação expôs nossa profunda discordância com o líder haitiano. Citamos a violência que é cometida contra a população nas ações militares da Minustah e criticamos o "pano de fundo" da ação militar chancelada pela ONU: a questão da exploração de mão-de-obra barata, análoga à escravidão, em favor de empresas transnacionais.


O presidente Réne Préval, em alguns momentos, mostrou certa dose de ironia frente as declarações dos componentes da delegação. Em um momento inusitado, o presidente surpreendeu a todos quando se escondeu embaixo da mesa, numa espécie de brincadeira que ninguém entendeu.


"O mais importante deste encontro é que foi dito ao presidente do Haiti que queremos a saída das tropas estrangeiras do país. Também deixamos claro que a nossa solidariedade não é a ele, o presidente do país, mas ao povo que está lutando contra essa ocupação opressora", afirmou Eduardo Almeida, membro da delegação e da direção nacional do PSTU.

Presidente do Haiti recebe delegação da Conlutas neste momento

Neste momento está acontecendo, no Palácio Nacional do Haiti, uma reunião da delegação da Conlutas que visita o país e o presidente Réne Préval.

A comitiva brasileira está apresentando argumentações contra a presença das tropas estrangeiras, lideradas pelo Brasil, que atualmente ocupam o Haiti.



O coordenador da delegação, Antonio Donizete Ferreira, acabou de entregar a "Carta ao Povo Haitiano" ao presidente Préval. O documento pede a saída do exército estrangeiro no país mais pobre das Américas.O encontro com o presidente segue.


Outros membros da delegação estão reunidos, também neste momento, com ministros do governo haitiano.

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Conlutas encontra-se com presidente do Haiti nesta quinta

Nesta quinta-feira, a delegação da Conlutas, que pede a saída das tropas brasileiras do Haiti, se encontra o presidente do país, René Préval. O encontro está previsto para as 9 horas, no horário local.


Também serão realizados encontros com o primeiro ministro do Haiti e ministros de Assuntos Sociais e do Trabalho e do Comércio e Indústria. 


Por conta das reuniões simultâneas a delegação deverá se dividir.

A delegação entregará ao presidente Préval a "Carta ao Povo Haitiano", que exige a retirada da força militar que oprime a população do Haiti.

Estudantes e professores haitianos recebem delegação

Na tarde desta quarta-feira, a delegação da Conlutas e de outras entidades teve um encontro com os estudantes e professores da Universidade do Estado do Haiti.

Neste encontro, o decano da universidade saudou os componentes que visitam o país e se posicionou a favor da luta pela retirada das tropas estrangeiras da nação mais pobre das Américas.

Junto com o professor, foi montada uma mesa de debate composta pelo coordenador da delegação e membro do PSTU, Antonio Donizete Ferreira, a dirigente nacional do PSOL Janira Rocha e o universitário Leandro Soto, que é da Conlute (Coordenação Nacional de Lutas dos Estudantes).

Aproximadamente 150 estudantes haitianos, de vários cursos, tomaram boa parte das dependências do auditório da universidade. Houve muitos aplausos para as intervenções dos membros da delegação.

Durante o encontro, todos os delegados foram chamados ao palco para serem apresentados aos universitários haitianos.

“Esta ocupação das tropas brasileiras e internacionais no Haiti só interessa aos grandes capitalistas, que querem lucrar ainda mais com a exploração do povo haitiano”, afirmou Leandro Soto, em sua apresentação, que foi traduzida para o creole (língua da maioria do povo) pelo companheiro Didier, da “Batalha Operária”.

Vários estudantes e professores haitianos seguiram na mesma linha: criticaram a presença das tropas de ocupação em seu país.

Confira áudio-matéria da reunião da delegação com o embaixador e o comandante da Minustah

A reunião com o embaixador brasileiro no Haiti, Paulo Cordeiro de Andrade Pinto, e o comandante das tropas da Minustah (missão que ocupa o país haitiano), general Carlos Alberto dos Santos Cruz, terminou por volta das 13 horas, horário local*.

Clique aqui e baixe a "áudio-matéria" deste encontro, no qual reiteramos veementemente nossa posição pela retirada das tropas brasileiras e internacionais do Haiti.

*Em comparação com o Brasil (horário de Brasília), o Haiti tem duas horas a menos.

Membros da delegação pedem a saída das tropas em reunião com embaixador e comandante da Minustah

A delegação da Conlutas e outras entidades está reunida neste momento com o embaixador brasileiro no Haiti, Paulo Cordeiro de Andrade Pinto, e com o comandante da Minustah (missão da ONU que ocupa o país), general Carlos Alberto dos Santos Cruz.

Estamos na sala em que acontece a reunião e utilizamos o sistema de rede da própria embaixada através do notebook da equipe de imprensa.


No encontro, também estão presentes a embaixatriz e outros militares brasileiros.

O advogado e um dos coordenadores da delegação, Antonio Donizete Ferreira tomou a palavra e expôs a posição do grupo contrária a presença das tropas brasileiras para “oprimir o povo haitiano”.

Outras pessoas criticaram a violência do exército principalmente nas incursões nos bairros pobres e até os casos de estupros cometidos pelos próprios militares.

"Até tenho a percepção de que o comandante da tropa não manda os soldados matarem os pobres e estuprarem as mulheres. Mas a realidade é que isso está acontecendo. Por isso, defendemos a saída imediata das tropas que ocupam o Haiti", disse Janira, integrante da delegação e da direção nacional do PSOL. 


A reunião prossegue neste momento.

terça-feira, 26 de junho de 2007

Conlutas e “Batalha Operária” firmam compromisso de luta

No primeiro dia da visita da delegação ao Haiti, o compromisso foi com a Batay Ouvriye (“Batalha Operária”, na tradução para o português), entidade que recebe os 20 delegados brasileiros.

Na chegada ao aeroporto de Porto Príncipe, capital do Haiti, os membros da “Batalha” já nos aguardavam. De lá, pegamos um micro ônibus emprestado de uma universidade da região, que nos levou até o local da reunião.

No trajeto, já pudemos perceber a dura realidade do povo haitiano. Nas moradias precárias, nos veículos antigos e remendados e na imagem de crianças, adultos e velhos tentando ganhar algum dinheiro no comércio ambulante, vemos o rastro da usurpação provocada pelo capitalismo neste país.

Na reunião com os dirigentes da “Batalha Operária”, trabalhadoras e trabalhadores de várias categorias relataram o quadro de exploração vigente no país, perpetrado pela presença imperialista das tropas da ONU, sob o comando do exército brasileiro.

“Estamos muito felizes em receber a delegação de vocês”, disse Jorge, um dos dirigentes da organização. “Precisamos fazer uma luta conjunta com a Conlutas. Quando vocês tiverem alguma mobilização no Brasil, nos comuniquem para que possamos deixar nosso protesto na embaixada brasileira aqui no Haiti”, propôs.

O relato dos trabalhadores haitianos se deu com a colaboração de Jorge e Didier, outro componente da direção do movimento, que traduziam os depoimentos de ora francês ora creole (língua falada pela maioria da população) para um espanhol compreensível aos ouvidos brasileiros.

Um dos momentos mais intensos do encontro foi quando Didier leu a “Carta ao Povo Haitiano”, documento assinado pela delegação e por vários dirigentes políticos e de movimentos populares, sociais e de direitos humanos (Leia a carta aqui). A leitura do documento foi motivo para um efusivo aplauso dos participantes da reunião.

“Queremos sim fazer mobilizações conjuntas, apoiar e colaborar para intensificar a luta valorosa do povo haitiano contra a ocupação das tropas estrangeiras comandadas pelo governo brasileiro”, disse Antonio Donizete Ferreira, o Toninho, em nome da delegação, às cerca de 50 pessoas presentes.

(fotos: Wladimir de Souza)

Primeiras impressões do Haiti

É claro que se pode aprofundar-se muito sobre o Haiti nas leituras de relatórios, livros e documentos, mas a experiência de ter o contato pessoal com um povo tão lutador num país tão cheio de contradições é muito singular.

Andando pelas ruas da capital temos a visão de uma multidão de pessoas procurando maneiras para enfrentar a pobreza e o profundo quadro de desemprego. Quase tudo está à venda nas mãos dos ambulantes. É chocante ver tantas crianças disputando um espaço para vender balas e doces nos semáforos. Pode até ser algo que vemos em São Paulo, mas aqui o número dos pequenos é muito maior.

O trânsito nas ruas de Porto Príncipe é “bem agitado”, se assim poderíamos dizer. Os motoristas insistem no toque irritante da buzina para quase qualquer gafe ao volante. Nas praças e nas ruas, o número de negros e negras, maioria absoluta da população, é enorme. É como se nas ruas estivesse passando, no carro do corpo de bombeiros, a seleção haitiana campeã da Copa do Mundo.

No trajeto aos locais de hospedagem da delegação, vemos um sem número de casas amontoadas morro acima. Ao anoitecer reparamos que nenhuma daquelas moradias tinha luz. Entendemos melhor a situação quando vimos que em nossos aposentos os geradores é que proporcionavam a iluminação necessária para as atividades noturnas.

Enquanto nós fazíamos artigos ou tratávamos fotos no Photoshop, do lado de fora o povo de Porto Príncipe, sem luz nas suas casas, saía às ruas, com velas acessas, num clima de bastante alegria. Sem dúvida, é um povo que merece muito a nossa admiração.
(fotos: Wladimir de Souza)

Delegação encontra-se com "Batalha Operária" ainda hoje

Estamos agora no Panamá, na escala que a delegação faz em direção ao Haiti. A conexão de Internet sem-fio liberada no aeroporto de Tocumen facilita o nosso trabalho. Os 20 membros da delegação enfrentarão pouco mais de duras horas de vôo para chegar a Porto Príncipe, capital haitiana.

Ao chegarmos ao nosso destino, deveremos ser recebidos pela organização Batay Ouvriye (Batalha Operária).

Ainda hoje, às 16 horas do horário haitiano, teremos um encontro com os membros dessa entidade, que devem contextualizar um pouco a situação do país.

Esperamos que o nosso próximo post já seja no Haiti.

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Delegação segue para o Haiti

Daqui a poucas horas a delegação da Conlutas e de outras entidades embarca rumo ao Haiti, numa expedição que durará uma semana. A expectativa de todos é grande para o destino do vôo 0758, da companhia Copa Airlines.

O objetivo da missão é o de conhecer a realidade do povo mais pobre das Américas e denunciar a ocupação militar (sob o comando do Brasil) e suas conseqüências.

A delegação é composta por 20 pessoas - entre sindicalistas, representantes dos movimentos estudantil e popular, aposentados e jornalistas. Cada qual carrega, além das bagagens, suas expectativas peculiares.

“Estou nervosa, à espera de ver a situação do Haiti. Acho uma experiência muito importante. Tenho tido contato com a realidade deste país desde o ano passado, quando realizei trabalhos para a universidade”, disse a estudante Sabrina Luz, de 26 anos, que é do diretório acadêmico da UFF (Universidade Federal Fluminense), do Rio de Janeiro.

“Fiz uma verdadeira campanha para poder participar dessa viagem. Recolhi contribuições de colegas e de professores. As doações começaram a partir de R$ 1”, revelou.

Alealdo Hilário, dirigente do Sindicato dos Petroleiros de Sergipe e Alagoas, tem a expectativa de trazer dessa viagem a experiência de conhecer de perto o que está por trás da ocupação das tropas brasileiras no Haiti. “Vamos nos aprofundar e detectar o projeto dessas forças que oprimem o povo haitiano”, afirmou.

Diretor da Admap (Associação Democrática dos Metalúrgicos Aposentados e Pensionistas) de São José dos Campos (SP), José Nunes, de 61 anos, também compõe a delegação.

“Espero encontrar um povo num estado de penúria. Queremos denunciar essa situação e exigir a saída das tropas que ocupam o país mais pobre das Américas”, comentou Nunes.

A delegação conta com um representante da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Aderson Bussinger, 44 anos, foi designado representante da entidade em seu conselho federal.

“Nossa expectativa é a de levar a solidariedade dos trabalhadores brasileiros ao povo haitiano, vitimado pela ocupação militar e pela extrema pobreza”, resumiu o advogado.

Fora tropas do Haiti!
Um dos coordenadores da delegação, Antonio Donizete Ferreira, o Toninho, comandou uma conversa com os componentes da viagem na sede da Conlutas, no Centro de São Paulo, antes da saída ao aeroporto de Guarulhos.

Ele ressaltou que a delegação tinha um objetivo claro, que é o de dizer em “alto e bom som” que aquela ocupação militar deve acabar e que o Brasil deve deixar o Haiti.

“Essa ocupação militar tem interesses claros do imperialismo, que se utiliza da miséria daquele povo para lucrar ainda mais. Um exemplo claro é a política de implantação de zonas francas, nas quais as chamadas “maquiladoras” (empresas multinacionais que não garantem direitos aos trabalhadores) se aproveitam da mão-de-obra extremamente pobre”, discursou Toninho.
(foto: Wladmir de Souza)

Conheça a "Carta ao Povo do Haiti" em três versões

Esta é a carta que a delegação vai entregar às autoridades haitianas e à população local. Mais abaixo, confira as versões em creole (língua mais falada no país) e francês (idioma oficial). O documento foi assinado por centenas de organizações e lideranças dos movimentos sindical, popular e de direitos humanos. Confira:

CARTA AO POVO DO HAITI

“Nenhum povo pode ser livre se oprime outro povo.”

Mais uma vez, o Haiti está sendo ocupado, agora, por tropas latino-americanas. São países oprimidos oprimindo um povo ainda mais oprimido.

Debaixo do falso manto da defesa da democracia, impõe-se a opressão, a exploração,
a miséria, manchando o solo de vosso país com sangue de vossa gente.

Na realidade, uma intervenção que fere a soberania de vosso povo, permitindo
ao imperialismo explorá-lo ainda mais e transformar o território haitiano em uma
plataforma de exportação dos produtos das empresas multinacionais.

O governo brasileiro de LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA detém o comando das tropas
militares neste território, cumprindo assim um nefasto papel de agente do imperialismo
opressor. Os trabalhadores e o povo brasileiro não respondem por este crime.

Ao contrário, ao heróico povo haitiano, que protagonizou a primeira e única revolução
de escravos vitoriosa, a primeira nação a conquistar a independência na América
Latina, que com bravura enfrentou tantas ditaduras em sua História e que acolheu
Simon Bolívar fortalecendo seus ideais de liberdade, queremos dizer que:

Estaremos juntos na luta pela desocupação do vosso território e seremos
mais que solidários, pois somos parte de uma mesma luta.
Embora à distância, travamos uma única batalha contra a colonização
imperialista.
Acreditamos, como Sandino, que Liberdade não se pede, se conquista...

Nós, que assinamos esta carta, estamos no teatro de operações, somos parte
deste cenário. Partilhamos as angústias e os sofrimentos do vosso povo e também
nos somamos na trincheira da resistência, da busca da autodeterminação de nossos
povos.

Sonhamos o mesmo sonho de liberdade.
A vossa luta é a nossa luta, a vossa vitória é a nossa vitória, a
liberdade de um povo é motivo de júbilo em toda a humanidade.

Pela imediata retirada das tropas brasileiras e de outros países do Haiti.
Pela autodeterminação do povo haitiano

______________________ * _____________________
versão em creole:

LÈT POU PÈP PEYI D AYITI

"Pyès pèp pa ka viv lib si l ap oprime lòt pèp"
Yon lòt fwa ankò, men y ap okipe peyi d Ayiti. Men, jounen jodi a, se twoup peyi Amerik Latin menm k ap okipe l. Yon peyi ki tou deja oprime ap oprime yon lòt ki pi mal pase l.

Anba fo pretèks ‘demokrasi’, peyi latino ameriken yo ap oprime pèp ayisyen an, y ap esplwate l, y ap mete l nan piplis mizè, pandan y ap foule tè peyi d Ayiti, pandan y ap fè san pèp lan koule.

Lè nou gade byen, entèvansyon sa a, se pèmèt li la pou pèmèt enpeyalis yo esplwate pèp la pi byen e transfòme teritwa peyi d Ayiti an yon platfòm pou espòtasyon pwodyi ki pral fèt nan faktori miltinasyonal yo.

Se Gouvènman LUIZ INACIO LULA DA SILVA ki alatèt kòmandman militè k ap okipe teritwa sa a. Nan sa, l ap jwe yon wòl negatif: se yon ajan enpeyalism lan. Travayè ak pèp brezilyen an pa responsab pou krim sa a.

Okontrè, n ap di ewoyik pèp ayisyen an, sila ki reyalize premye, sèl, e inik revolisyon esklav ki pòte laviktwa, premye pèp ki endepandan nan Amerik Latin lan, pèp sila ki fè fas kare devan sitèlman diktati nan listwa l e ki te akeyi Simon Bolivar e ranfòse lide libète l yo:

N ap ansanm avèk nou nan lit pou fòse militè l ONI yo kite teritwa nou an, e n ap plis pase solidè, paske nou tout se menm lit lan n ap mennen.
Malgre distans lan, nou tout n ap mennen menm lit la kont kolonizasyon enpeyalis lan.
N ap di anfen, tankou Sandino te di l: la Libète, yo pa bay sa, se pran pou nou pran l.

Nou menm ki siyen lèt sa a, nou menm tou nou nan teyat operasyon yo, mou menm tou nou fè pati sèn lan. Nou gen menm angwas, menm soufrans ak pèp ayisyen an e nou menm tou nou nan menm batay la, nan menm rezistans lan, nan menm goumen n ap goumen tou pou jwenn otodetèminasyon pèp pa nou an.

N ap reve menm rèv libète an.
Lit pèp ayisyen, se lit pa nou tou. Laviktwa pèp ayisyen ap laviktwa pa nou tou. Libète yon pèp se rejwisans pou tout pèp sou latè.

Fòk twoup brezilyen yo kite peyi d Ayiti san pèdi tan!
Fòk pèp ayisyen rejwenn otodetèminasyon l klèman!


______________________ * _____________________
versão em francês:
LETTRE AU PEUPLE HAÏTIEN
"Aucun peuple ne peut être libre s’il opprime un autre."
Voici qu’encore une fois Haïti est occupée! Mais, cette fois-ci, ce sont des troupes latino américaines qui s’en chargent. Un pays opprimé opprime un autre qui l’est encore plus.
Sous une fausse couverture de "défense de la démocratie", il impose une oppression, une exploitation, une misère, salissant le sol de votre pays avec le sang de vos gens.
En réalité, cette intervention foule au pied votre souverainneté, dans le but de permettre à l’impérialisme d’exploiter les travailleurs et transformer le territoire haïtien en une platteforme d’exportation des produits des entreprises multinationales.
Le gouvernement de LUIZ INACIO LULA DA SILVA, a le commandement des troupes militaires internationales sur ce territoire, accomplissant ainsi un rôle néfaste d’agent de l’impérialisme oppresseur. Les travailleurs et le peuple brésilien ne répondent pas de ce crime.
Au contraire, à l’héroïque peuple haitien, premier et unique à avoir réalisé une révolution d’esclaves victorieuse, premier également à avoir conquis son indépendance en Amérique Latine et qui, avec bravoure, a fait face à tant de dictatures durant son Histoire et a accueilli Simon Bolivar, renforçant ses idées de liberté, nous disons:
Nous serons avec vous dans la lutte pour la désoccupation de votre térritoire, et nous serons plus que solidaires, car nous sommes tous partie d’une même lutte.
Quoiqu’à distance, nous menons tous une seule et même bataille contre la colonisation impérialiste.
Avec Sandino, nous pensons que la liberté ne se demande pas, elle se conquiert... 
Nous, sous signés, nous sommes sur le téâtre des opérations, nous sommes partie de cette scène. Nous partageons les mêmes angoisses, avons avec vous les mêmes souffrances et nous sommes également à l’intérieur des tranchées de résistance, à la recherche de l’auto détermination de nos peuples.
Nous partageons le même rêve de liberté.
Votre lutte est notre lutte, votre victoire sera la nôtre: la liberation d’un peuple est motif de réjouissance pour l’humanité entière.
Pour le retrait immédiat des troupes brésiliennes d’Haïti.
Pour l’auto détermination du peuple haïtien.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Haiti: três anos de ocupação, miséria e sofrimento

Por Antônio Donizete Ferreira

Em junho de 2004, soldados brasileiros deixaram suas famílias no Brasil e desembarcaram no Haiti, acreditando estarem contribuindo com a estabilização da crise sócio-política surgida desde a deposição do então presidente Jean Aristide. No entanto, a ação militar brasileira, que reúne o maior contingente desde a Segunda Guerra Mundial, tem interesses muito mais profundos e obscuros do que melhorar a vida dos haitianos.

O Haiti foi o primeiro país latino-americano a conquistar sua independência. Seu povo protagonizou a primeira e única revolução de escravos vitoriosa no mundo. Mas esta ousadia jamais foi perdoada pelos países colonialistas que, ao longo da história, ocuparam sistematicamente o país, sufocando seu desenvolvimento econômico.

Hoje, o Haiti é o país mais pobre das Américas. O levantamento das Nações Unidas mostra uma população jovem, negra e praticamente analfabeta. Aproximadamente 60% dos adultos não têm instrução primária e mais da metade das crianças não freqüentam escolas. Além de deter os piores índices de mortalidade infantil (125 mortes por mil crianças nascidas), é o maior indice de infecção por Aids do hemisfério. Cerca de 80% da população deste país vive abaixo da linha da pobreza.

Nesses três anos de intervenção militar liderada pelo Brasil, a vida do povo haitiano não melhorou. Existem várias denúncias de uso indiscriminado de violência por parte das tropas de ocupação, incluindo agressões e assassinatos. A situação das mulheres é ainda pior, com denúncias de estupros e assédios realizados por soldados estrangeiros na capital Porto Príncipe.

Essas denúncias de violência gratuita, estupros e assassinatos nos remetem à guerra do Iraque. Não faltam imagens de marines assassinando civis iraquianos. Há uma outra característica entre os dois países. Quando George W. Bush decidiu invadir o Iraque, seus motivos também não estavam muito claros, falavam de armas químicas (que nunca foram achadas), depois de democracia e agora está claro: a guerra do Iraque é uma verdadeira ocupação imperialista em busca de petróleo.

Algo idêntico ocorre na ilha caribenha. O imperialismo pretende transformar o país em uma plataforma de exportação, uma grande "zona franca", utilizando o trabalho do povo haitiano em condições análogas às da escravidão, através das empresas chamadas "maquiladoras", principalmente no setor de vestuário e artigos esportivos. Outro grande projeto é, em conjunto com o governo brasileiro, produzir nesta parte da ilha o etanol de que os EUA precisam.

Para conseguir este objetivo foi preciso reprimir os vários protestos que vinham e continuam acontecendo no país. Eles precisam de uma intervenção militar, camuflada sob a bandeira da paz e da democracia. Como as tropas americanas estão enterradas até o pescoço no Iraque, foi necessária a intervenção de outros países, seus sócios menores. E, neste momento, o governo Lula aparece como fiel escudeiro dos interesses imperialistas, mandando soldados brasileiros reprimirem o povo mais sofrido do continente.

Nesses três anos de ocupação, dezenas de entidades sindicais e da sociedade civil, como Jubileu Sul, o MST e a Conlutas, juntamente com várias entidades de direitos humanos, têm denunciado essa ocupação militar. O PSTU é parte deste movimento.

No dia 26 de junho, uma delegação brasileira de sindicalistas e representantes de entidades civis partirá para o Haiti com o objetivo de denunciar esta ocupação. Vamos levar nossa solidariedade à luta do povo pobre e oprimido daquele país pela sua autodeterminação. Queremos exigir do governo brasileiro a imediata retirada das tropas, pois a exploração do povo haitiano é a mesma que atinge o povo brasileiro.

Antônio Donizete Ferreira (Toninho) é dirigente do PSTU e membro da delegação que vai ao Haiti

Programação da delegação no Haiti

A delegação da Conlutas no Haiti vai realizar uma série de atividades, entre elas, encontro com o presidente e o primeiro-ministro do país. O grupo contará com o apoio da Batay Ouvriye (http://www.batayouvriye.org/), organização haitiana que luta pela soberania daquele povo e pelos direitos dos trabalhadores. Confira abaixo a programação, dia-a-dia:

Terça-feira, dia 26 de junho
12h00: Chegada da delegação ao Haiti.
16h00: Encontro com os dirigente da Batay Ouvriye, que é a entidade que vai receber a delegação.

Quarta-feira, dia 27 de junho
09h00:
 Encontro com embaixador brasileiro na Embaixada do Brasil.
10h00: Encontro com embaixadores da Argentina, Chile, Uruguai, Bolívia, Cuba e Venezuela, na embaixada brasileira.
12h30: Visita a uma “maquiladora”, empresa na qual os trabalhadores não têm direitos garantidos.
15h00: Encontro com a reitoria e professores da Universidade do Estado.

Quinta-feira, dia 28 de junho
09h00: Audiência com:
- Presidente da república;
- Primeiro-ministro;
- Ministro de Assuntos Sociais e do Trabalho;
- Ministro de Comércio e Indústria.
(a delegação será divida para cumprir a programação, pois as audiências serão em separado).

14h00: Visita ao Museu do Panteão Nacional.
16h00: Visita à Faculdade de Ciência Sociais, da Universidade do Estado.

Sexta-feira, dia 29 de junho
06h00: Viagem até Cap-Haitien (segunda maior cidade do país); no trajeto: encontro com trabalhadores rurais de várias regiões.
15h00: Encontro com dirigentes operários e rurais.
16:30: Encontro aberto dos trabalhadores e imprensa no auditório da cidade.

Sábado, dia 30 de junho
06h00: Subida a "Citadelle", fortaleza maior da vitória de 1804 contra a escravidão.
13h00: Chegada à "zona franca" de Ouanaminthe, onde os trabalhadores locais lutam contra ataques e demissões.
15h00: Encontro aberto com os trabalhadores dessa "zona franca".
17h00: Retorno a Cap-Haitien.

Domingo, 1º de julho 
06h00: Retorno à capital, Porto Príncipe.
15h00: Encontro aberto com trabalhadores e público em Cité Soleil.

Segunda-feira, dia 2 de julho
09h00: Coletiva de imprensa, com várias emissoras de TV e rádio.
15h00: Encontro com organizações de direitos humanos, de mulheres, de pastorais da Igreja, de representantes de alguns partidos políticos, de organizações e movimentos populares, personalidades e intelectuais.
19h00: discussões aprofundadas com convidados.

Terça-feira, dia 3 de julhoÚltimo dia da visita, com preparação para o retorno ao Brasil e produção de pré-relatórios ou documentos sobre a missão da delegação.

terça-feira, 19 de junho de 2007

Delegação da Conlutas e OAB vai levar solidariedade ao povo do Haiti

No dia 26 de junho, uma delegação de sindicalistas da Conlutas e representantes da OAB nacional inicia uma visita de uma semana ao Haiti. Desde 1º de junho de 2004, o país está sob a ocupação militar de tropas da ONU, comandadas pelo exército brasileiro.

Longe de cumprir um papel humanitário, a presença das tropas de ocupação representa uma intervenção que fere a soberania do povo haitiano. O objetivo da visita é levar solidariedade aos trabalhadores do Haiti e aumentar a pressão pela retirada das tropas.

Programação
No roteiro da delegação está programada uma audiência com o presidente e o primeiro-ministro do Haiti. O grupo vai entregar às autoridades haitianas um manifesto assinado por sindicatos, parlamentares e intelectuais que pede a saída das tropas brasileiras do país. A deputada federal Luciana Genro (PSOL) e o professor Plínio de Arruda Sampaio já manifestaram o seu apoio ao manifesto.

Uma coletiva de imprensa será realizada na Sede Nacional da Conlutas (em São Paulo), no dia 25 de junho, às 15 horas (Pça. Padre Manoel da Nóbrega, 36 / 6º andar, SP).