quarta-feira, 31 de março de 2010

Delegação encontra-se com haitianos em acampamentos

A quarta-feira, dia 31, começou com uma reunião com a coordenação da Batay Ouvriye, para definirmos a programação.

No período da manhã, Zé Maria foi entrevistado numa rádio local e falou sobre os objetivos da visita de solidariedade dos representantes da Conlutas.

Enquanto isso, o restante da delegação visitou os acampamentos onde estão os haitianos desabrigados pelo terremoto.

A visão é extremamente impactante: centenas e centenas de barracas, nas quais se amontoam famílias inteiras.

Entrevistei várias pessoas para, posteriormente, fazermos um vídeo sobre a situação no Haiti. Um dos haitianos relatou a situação de completo abandono da população.

“A promessa é que ficaríamos aqui apenas alguns poucos dias, mas já estamos há três meses e não temos perspectiva de sair daqui”, disse, revolta em seu olhar.

“A ajuda humanitária é muito insuficiente. Um dia trazem comida, mas, no outro, não chega nada pra gente”.

A situação de higiene também é deplorável e os improvisados banheiros químicos não trazem conforto algum aos acampados.

Quase na hora do almoço, um flagrante. Uma manifestação contra o presidente do Haiti, René Préval, reuniu uma centena de pessoas. De perto, soldados da Minustah (força de ocupação da ONU liderada pelo Brasil) desfilavam suas viaturas, armas e o escudo das Nações Unidas. Ninguém da delegação teve dúvida do caráter intimidatório da ação.

Reuniões nos acampamentos
À tarde, a delegação fez reuniões em quatro acampamentos. Com as lideranças destes agrupamentos, os representantes da Conlutas discutiram o papel representado pela ocupação militar e apresentaram sua solidariedade.

Na primeira reunião, no acampamento próximo a Cite Soleil, tida como região mais pobre de Porto Príncipe, cerca de 100 pessoas se espremeram para receber a delegação, um encontro muito intenso. Trata-se de um dos acampamentos mais organizados, já que é controlado pela Batay Ouvriye.
No final desta postagem, uma observação: estamos com grande dificuldade de acesso à Internet. Por este motivo, o blog não está sendo alimentado diariamente. De qualquer modo, na medida do possível, vamos relatando as impressões dos representantes da Conlutas em solo haitiano, que, em tempo, listo abaixo:

Cecília de Paula (Andes) - UFBA
Cláudia Durans (Andes) - UFMA
Hélvio Mariano (Andes) - Unicentro
José Maria de Almeida (Federação dos Metalúrgicos / MG)
Vivaldo Moreira Araújo (Sind. Metal. São José dos Campos / SP)
e eu, Rodrigo Correia (jornalista do Sind. Metal. São José dos Campos / SP)


Chegamos ao Haiti guerreiro e lutador

Nesta terça-feira, dia 30 de março de 2010, por volta das 15 horas do horário local (17 horas no Brasil), desembarcamos no aeroporto de Porto Príncipe, capital do Haiti.

Já nos primeiros passos em território haitiano, saltam aos olhos os estragos causados pelo terremoto de 12 de janeiro. Enormes rachaduras são evidentes no aeroporto Toussaint Louverture, assim como a visão da ocupação militar norte-americana, com helicópteros estacionados próximos à pista de pouso e soldados no improvisado salão de desembarque.

Nosso primeiro compromisso foi uma reunião com os companheiros da Batay Ouvriye (Batalha Operária), organização operária e popular que, mais uma vez, recebe uma delegação da Conlutas – desta vez, composta por 6 pessoas.

A recepção foi calorosa. A sede da Batay tinha bandeiras da Conlutas e cartazes contra a ocupação militar que viola a liberdade do povo haitiano e intensifica a exploração a qual é submetido.

Didier Dominique, um dos líderes da Batay Ouvriye e que já esteve no Brasil diversas vezes, falou sobre o difícil processo de rearticular os movimentos dos trabalhadores.

“Tudo ficou mais complicado, a comunicação com nossos companheiros e o transporte, que aumentou quatro vezes mais depois do desastre”, resumiu Didier, sobre o terremoto que destruiu Porto Príncipe e matou mais de 200 mil pessoas.

Entretanto, o movimento já está sendo reorganizado.

Solidariedade de classe
Os membros da Batay Ouvriye agradeceram à solidariedade da Conlutas aos trabalhadores haitianos. Além da visita da delegação e das moções de solidariedade em assembleias em diversas partes do Brasil, a Conlutas concentrou arrecadações de sindicatos e organizações e as repassou à Batay.

Para Didier, foi uma extraordinária ajuda, que possibilitou que a organização desse os primeiros impulsos no processo de sua reestruturação, em defesa do conjunto dos trabalhadores do Haiti.

José Maria de Almeida, da Federação dos Metalúrgicos de Minas Gerais, agradeceu a recepção dos companheiros haitianos. As falas eram traduzidas do espanhol para o creole, língua nativa.

Tragédia natural sobre a tragédia social
Depois do encontro, fomos até o local onde estamos hospedados. No caminho, as cenas que vimos na televisão, de centenas de construções em ruínas e a população tentando sobreviver em barracas, provocam um impacto muito mais forte.

No momento em que a televisão não fala mais do Haiti, presenciamos um fato estarrecedor: nenhuma movimentação, do mais do que ausente governo ou mesmo da ONU, ocorre no sentido de reconstruir Porto Príncipe. Os entulhos continuam por toda a parte! As pessoas continuam "vivendo" em espaços de poucos metros quadrados, pequenas barracas.

Os trabalhadores haitianos são dependentes, mais do que nunca, de suas próprias forças, para reconstruir aquilo que foi destruído pelo desastre natural potencializado pelo desastre social.

sexta-feira, 26 de março de 2010

DELEGAÇÃO EMBARCA PARA O HAITI NA MADRUGADA DESTA TERÇA-FEIRA, DIA 30

Uma delegação com representantes da Conlutas, do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região e do Andes-SN embarca na madrugada desta terça-feira, dia 30, ao Haiti. Os ativistas vão pegar o voo CM 758 com destino ao Panamá e, depois, o CM 422 para chegarem finalmente ao Haiti.

O objetivo da viagem é prestar solidariedade à organização sindical e popular Batay Ouvriye e ao povo haitiano. A delegação fica até o 3 de abril.

"Essa é mais uma iniciativa da campanha de solidariedade ao povo haitiano, encabeçada pela Conlutas. É também mais uma oportunidade para denunciarmos a ocupação militar no Haiti, comandada pelo governo Lula, que foi intensificada após o terremoto sob o argumento de ajuda humanitária", disse José Maria de Almeida, da Conlutas, que faz parte da delegação.

O novo envio de tropas, iniciativa do governo dos EUA, Barack Obama, deixou clara a intensificação da política de ocupação. Por isso, a delegação aproveitará a viagem para exigir, mais uma vez, a saída das tropas do Haiti.

Doações 
Mais de 25 entidades e organizações já enviaram contribuições financeiras em duas remessas que totalizaram mais de R$ 160 mil. Muitas outras entidades ainda devem fazê-lo.

A GM do Brasil, unidade São José dos Campos, está se recusando a efetuar a doação que foi aprovada pelos trabalhadores em assembléia. São cerca de R$ 300 mil, referentes ao desconto único de 1% do salários dos metalúrgicos.

O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região, com a recusa da empresa, está encaminhando uma campanha internacional para que a GM cumpra a vontade dos trabalhadores.

No último dia 17, a CONLUTAS e o Sindicato denunciaram a montadora na Organização Internacional do Trabalho (OIT), em Brasília, por atentado à liberdade sindical e crime de lesa-humanidade.

Representantes da OIT e da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) manifestaram total apoio ao Sindicato. Agora, o caso deve ser encaminhado para o Comitê Geral da OIT, em Genebra.