sexta-feira, 6 de julho de 2007

Veja algumas imagens de momentos da delegação da Conlutas que visitou o Haiti

Veja este clipe com alguns momentos da delegação da Conlutas que visitou o país caribenho e exigiu a retirada das tropas brasileiras de lá: 



Deixe seu comentário!

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Veja vídeo com trecho da leitura da Carta ao Povo do Haiti, em Cité Soleil

Esta reunião aconteceu no dia 1º de julho de 2007, em Cité Soleil, na capital do Haiti: Porto Príncipe:


Ouça a entrevista que Toninho, da delegação da Conlutas, nos concedeu ainda no Haiti

Momentos antes de retornar ao Brasil, no dia 3, a delegação concedeu algumas entrevistas no Haiti. Esta entrevista foi feita com o coordenador da delegação, Antonio Donizete Ferreira, o Toninho, na sede da Batay Ouvriye ("Batalha Operária").

Clique aqui e ouça esta entrevista (baixe o arquivo, que está em mp3).

Entrevista coletiva sobre a delegação ao Haiti é nesta quinta


Companheiros e companheiras,

Comunicamos que a delegação de companheiros que visitou o Haiti, com a missão de prestar solidariedade aos trabalhadores haitianos e aumentar a pressão pela retirada das tropas brasileiras de lá, retornou ao Brasil ontem.

Dentre as atividades previstas para o retorno da delegação, estamos programando uma coletiva de imprensa com uma pequena recepção na sede da Conlutas Nacional. Durante a recepção realizaremos uma entrevista ao vivo, que será transmitida pela Rádio Movimento. Para ouvir a rádio basta clicar no banner que estará disponível no site da CONLUTAS (http://www.conlutas.org.br/) ou no site da rádio (http://www.radiomovimento.net/).

A participação dos companheiros e companheiras é muito importante para nós.

Data: 05/07/07
Horário: a partir das 15 horas
Local: Auditório da Conlutas Nacional
Pça. Pe. Manoel da Nóbrega, 36 - 6º andar
Sé (próximo ao Pátio do Colégio).

Mais informações: 
Assessoria de Imprensa da CONLUTAS

 assessoria@conlutas.org.br
(11) 3107-7984, (11) 8419.2696

terça-feira, 3 de julho de 2007

Delegação reforça exigência pela retirada das tropas e conhece mais da cultura haitiana

A delegação da Conlutas, que foi ao Haiti exigir a saída das tropas brasileiras do país, participou, nesta segunda-feira e penúltimo dia de nossa visita, de um debate com organizações de direitos humanos.

O encontro se realizou num auditório cedido pela Igreja Católica local. Os membros da delegação reafirmaram a posição de exigir a retirada das forças militares que oprimem o povo e fazem o jogo dos países imperialistas, que querem explorar, de forma muito contudente, a mão-de-obra pobre do Haiti.

Algumas pessoas presentes ao debate defenderam que as tropas devem ficar no país por mais algum tempo, pois o país precisava da força de “estabilização”.

O coordenador da delegação, Antonio Donizete Ferreira rebateu essa argumentação em seu discurso. "Se ocupação militar resolvesse os problemas do povo, o Haiti seria o país mais rico das Américas", disse Toninho, numa referência às várias ocupações e ditaduras instauradas pelo imperialismo no país desde a sua independência.

"A dita estabilidade que muitos justificam a ocupação é a estabilidade em benefício dos grandes neoliberais, que querem explorar ainda mais os trabalhadores deste país. O presidente René Préval demonstrou, quando o encontramos, qual é a sua posição sobre a exploração de seu povo. Ele simplesmente se escondeu embaixo da mesa", disse Karina Oliveira, diretora do Sindicato dos Químicos de São José dos Campos e componente da delegação, a respeito do gesto inusitado do presidente haitiano durante a reunião com os membros, no dia 28.

Vodu e cultura haitiana
Depois do debate, fomos fazer uma atividade muito esperada pelos membros da delegação. Fomos a um templo vodu e participamos da empolgante celebração, familiar a boa parte do povo haitiano.

Quando falamos de vodu, muitos pensam, por culpa da indústria cultural de Hollywood, em alguém espetando um bonequinho com fins malignos. Pelo que vimos, é totalmente o oposto. Foi uma celebração de integração dos povos haitiano e brasileiro, com frisou o professor José Geraldo Correa Junior, da Apeoesp São Paulo, pela Oposição Alternativa.

O vodu é uma celebração parecida com os cultos afro-brasileiros, como o candomblé brasileiro. Um ritual envolvente, no qual a delegação participou entusiasmada. Uma das músicas cantadas em criole (língua da maioria do povo haitiano) dizia: "Irmãos, irmãos. Somos todos irmãos".

Neste ambiente de integração e acolhimento, tivemos contato com uma celebração que, muito mais do que meramente religiosa, é estritamente cultural. Faz parte e foi construída com a história do povo do Haiti.

Compromissos do último dia
Nesta terça, dia em que pegamos o avião de volta ao Brasil, teremos ainda agenda a cumprir. A delegação vai se dividir em coletiva de imprensa e entrevistas para rádios locais. Outros componentes vão conversar com o embaixador chileno no Haiti (claro, com a mesma linha de defender a retirada das tropas estrangeiras do país).

Delegação cumpre sua missão no Haiti, diz fora às tropas e retorna nesta quarta ao Brasil



Começo a escrever este texto às 15h50, no fuso horário do Haiti, ou seja, às 17h50 em terras brasileiras. Estou dentro do avião que nos levará a uma conexão ao Panamá. De lá, o destino será o Brasil. A delegação da Conlutas deixa o país caribenho com um sentimento de dever cumprido, mas com a consciência de que muito trabalho ainda precisa ser realizado: a campanha pela retirada das tropas brasileiras do Haiti precisa se intensificar em nossos sindicatos, organizações e junto aos trabalhadores e trabalhadoras brasileiras.

Participamos de reuniões com autoridades (inclusive o presidente René Préval), nos encontramos com trabalhadores do campo e da cidade, visitamos locais históricos e conhecemos a cultura haitiana e a sua riqueza. Por outro lado, vimos o inverso na questão sócio-econômica. A miséria é uma gravíssima situação no país mais pobre das Américas.

Com o presidente Préval e o embaixador brasileiro, nossa delegação enumerou argumentos e exigiu o imediato fim da ocupação militar estrangeira no Haiti.

Proximidade com os trabalhadores
Apesar dos encontros com as autoridades, o maior mérito da delegação foi o de estar junto com os trabalhadores haitianos em diversas oportunidades. Ouvimos suas queixas a respeito dos ataques aos seus direitos e à desumana exploração de sua mão-de-obra. Sentimos nestes trabalhadores uma força muito grande, de resistência à toda exploração perpetrada pelas grandes potências capitalistas, ditaduras e ocupações estrangeiras.

“O Haiti, que foi o único país das Américas a fazer uma revolução de escravos e conquistar sua liberdade frente aos colonizadores franceses, precisa declarar a sua segunda independência. E nós, da Conlutas, estamos nessa luta com os trabalhadores haitianos”, disse o coordenador da delegação, Antonio Donizete Ferreira, o Toninho.

Partilha da experiência
Creio que muita coisa precisa ser partilhada pelos 20 componentes da delegação. Isso deve ser feito em suas entidades, organizações, universidades, na militância política e em todo o lugar.

A nossa delegação deve chegar às 6h, desta quarta (dia 4), no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. No desembarque, traremos conosco experiências que marcaram nossas vidas.

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Em dia de Seleção, trabalhadores de Cité Soleil reúnem-se com nossa delegação

Domingo foi mais um dia de acordar bem cedo. Saímos de Cap-Hatien em direção à capital Porto Príncipe. O objetivo era o de visitar a maior favela da cidade, a Cité Soleil (Cidade do Sol, em português).


Como na sexta (quando fizemos a viagem de ida), os buracos na estrada, as pessoas muito carentes e o sol forte estavam presentes. A correria é muito grande, principalmente para a equipe de comunicação da Conlutas, que cobre os passos da delegação, fotografa, entrevista, escreve textos e alimenta este blog. Hoje foi um dia recorde.

Para se ter uma idéia, como em Cap-Hatien não tínhamos acesso à internet, tive que postar o penúltimo post no andar de cima do restaurante onde comemos. Desnecessário mencionar em qual ritmo fizemos as duas coisas.

Antes de chegarmos a Cité Soleil, vimos vários tanques das tropas da ONU, com soldados com armas nas mãos e prontos para cumprirem sua dita “missão de paz”.

Cidade do Sol

Por volta das 16 horas, chegamos na entrada de Cité Soleil, lugar ainda mais pobre do que aqueles que havíamos visto. Participamos de um encontro organizado pela “Batalha Operária”, organização haitiana que nos recebe.

No local, 250 pessoas se espremiam para participar de uma reunião com os membros de nossa delegação. A sala da reunião estava completamente tomada, mesmo com o fato de o jogo da Seleção Brasileira, muito querida pelos haitianos, começar dali a poucos minutos.

No encontro, a delegação se apresentou, leu a “Carta ao Povo do Haiti” e reiterou a exigência pela retirada imediata das tropas brasileiras do país. Muitas mulheres e crianças estavam presentes. Estas últimas sempre com um olhar curioso em direção aos membros da delegação, sobretudo os brancos, que são notados com extrema facilidade num país em que a maioria absoluta da população é da raça negra.

Jogo do Brasil
Ainda sobre isso, notei que algumas pessoas me olhavam com certa desconfiança, sobretudo quando fui andar um pouco pelo bairro. Considero algo plenamente justificável, até porque são os soldados (em sua maioria, brancos) que invadem o local com carros blindados e espalham o terror contra a população local.

Talvez tenha sido apenas uma coincidência ou uma armadilha gerada pela falta de conhecimento da língua e costumes locais. No entanto, se for real a minha impressão, analiso que a repulsa às tropas estrangeiras no país é um sentimento que se solidifica entre os haitianos.

Na continuação do meu “passeio” pelo bairro, vi uma meia duzia de crianças jogando futebol no chão de terra. A poeira se levantava a cada drible dos meninos em busca do gol, cada qual demarcado com dois pedregulhos no chão.

Com um companheiro da “Batalha Operária”, entrei no quintal da casa de um morador que tinha televisão e energia elétrica (possivelmente, conseguida por meio de um gerador). Em outros posts, já havia mencionado que luz elétrica no Haiti é garantida só para os ricos.

O anfitrião recebia em seu quintal mais de trinta pessoas, que acompanhavam atentos aos lances da vitória do Brasil sobre o Chile, na Copa América. Os haitianos gostam muito do Brasil, torcem pela nossa seleção de futebol e são fãs de Ronaldinho e Kaká. É lamentável que justamente o país verde-e-amerelo seja quem comanda as tropas estrangeiras que os oprimem. Esperamos que este jogo vire logo. 

A exploração sem limites nas “maquiladoras”

No sábado, dia 30, depois de visitarmos a “Cidadela”, fomos para uma reunião com 100 trabalhadores em Ouanaminthe, onde está localizada a primeira zona franca do Haiti. Conversamos com os trabalhadores sobre a nossa luta pela retirada das tropas brasileiras do seu país (propósito da viagem de nossa delegação) e sobre a exploração cruel a que eles são submetidos.

A criação de zonas francas faz parte de um plano que interessa muito às grandes potências e aos Estados Unidos. Nada menos que um total de 18 estão programadas para serem criadas. Nelas, estão instaladas as “maquiladoras”, empresas multinacionais que desfrutam de vários benefícios fiscais e exploram os trabalhadores de forma semelhante à escravidão.

A fábrica Codevi é um exemplo. Ela fabrica jeans para marcas famosas como a Levis e a Wrangler, e é parte de um conglomerado dominicano, o grupo M. Os operários recebem US$ 46 por mês e trabalham vigiados por capatazes armados, segundo a denúncia do sindicato.

Histórico de repressão
Logo no início da operação da fábrica, em 2003, foi organizado um sindicato para lutar contra estes abusos. A reação foi imediata, com a demissão dos 34 ativistas que organizavam a entidade. Uma greve de dois dias fez os patrões recuarem e admitirem os operários de volta, naquela que foi a primeira vitória na zona.

De imediato, 370 operários se filiaram ao sindicato. Menos de uma semana depois, a fábrica demitiu os 370, e se começou outra luta, de mais de um ano. Os trabalhadores fizeram greves e uma campanha internacional que chegou aos EUA. Uma aliança com estudantes universitários norte-americanos possibilitou um boicote aos jeans dessas marcas. Finalmente, a empresa teve de recuar e readmitir os operários.

Proibido se aproximar
Nossa delegação foi à portaria da maquiladora Codevi. Bom, pelo menos foi essa a tentativa, já que a segurança armada da empresa não permite a aproximação de “visitantes indesejados”, como nós.

Próximo à entrada da empresa, vimos cinco barracos de madeira, sem paredes, que são os locais nos quais os seis mil trabalhadores daquela fábrica se alimentam. Registre-se: alimentam-se com a comida trazida por eles próprios.

Atravessamos a ponte que dá acesso à fábrica. A ponte fica em cima de um rio. Não pudemos avançar muito porque logo nos deparamos com vigias armados que bloqueiam o portão da Codevi e olham com cara feia quem muito se aproxima.

“Essa é a explicação econômica de toda essa ocupação haitiana. As tropas estão aqui para garantir um plano econômico que inclui o biodiesel no campo e 18 zonas francas como essas. Querem aproveitar a mão de obra em condições de quase escravidão para produzir para o mercado dos EUA, pertinho de Miami”, disse Eduardo Almeida, membro da delegação e dirigente nacional do PSTU.

Ao sairmos da frente da fábrica, rumo a Cap-Hatien (nosso local de repouso naquela noite), tivemos de aguardar as águas do rio baixarem, já que uma ponte de Ouanaminthe estava tomada pelas águas. Na espera, somente a reflexão sobre o tamanho da exploração que sofrem aqueles trabalhadores. Algo profundamente desumano.

domingo, 1 de julho de 2007

Delegação visita fortaleza do povo negro livre

Neste sábado, nossas atividades começaram bem cedo e, mais uma vez, terminaram muito tarde. Logo às 6 horas da manhã saímos de Cap-Hatien rumo ao forte da “Cidadela”, que foi a maior das fortalezas, de um total de 23, construídas pelos escravos negros que venceram seus opressores na revolução que terminou no início de 1804.

As imponentes construções, que ficam no planalto do Haiti, foram projetadas com as mais modernas técnicas da época, principalmente o forte da Cidadela. Seu objetivo era o de reforçar a defesa frente a um possível ataque e retorno dos franceses, seus colonizadores.

Os franceses nunca vieram, mas o papel dissuasório da Cidadela funcionou. Diz a história que um espião inimigo foi ao Haiti colher informações sobre o sistema de defesa local. Ao ver a grandeza da fortificação construída pelos negros demoveu seus superiores a tentar qualquer ação no território haitiano.

Suor e esforço
A caminhada para chegar ao forte da Cidadela não é fácil. Habitantes da vila próxima à forteleza oferecem cavalos aos turistas que querem evitar o desgaste de andar quase 40 minutos, debaixo de um sol escaldante, numa subida muito forte. É de literalmente se suar a camisa. Cheguei ao forte completamente molhado de suor, assim como os outros membros da delegação.

Conhecer este forte, que inclusive está sendo restaurado, é algo muito enriquecedor. Vendo a magnitude da construção e debatendo um pouco da história do Haiti, pensei como nossos livros escolares resumem a história dos povos da América Latina a um parágrafo ou dois. Lamentável. A trajetória da revolução negra haitiana, a primeira das Américas, é muito rica e cheia de detalhes interessantes. Um bom livro para se ler sobre esse tema é “Jacobinos Negros”, de C.L.R. James.

Pobreza
Em nossa rota de conhecimento histórico, nos deparamos, como em todos os dias de nossa jornada, com a miséria dos irmãos haitianos. São pessoas que pedem dinheiro aos turistas, lhe oferecem seus produtos artesanais e tocam instrumentos musicais em busca de alguma gorjeta que, possivelmente, lhe garantiria o pão na mesa de suas famílias.

Alguém pode se perguntar se no Brasil não ocorre a mesma situação. Responderia que sim e não. No Haiti as dimensões da pobreza são muito maiores, basta conferirmos alguns número deste tão pobre país:

- A renda per capita anual do Haiti representa 15% da média latino-americana;
- Menos de uma pessoa entre 50 tem emprego fixo;
- Menos de 40% da população têm acesso à água potável;
- O analfabetismo atinge 45% da população;
- A expectativa de vida caiu de 52,6 anos em 2002, para 49,1 anos em 2003.
- Só 24% dos partos são atendidos por pessoal qualificado;
- O país ocupa o posto 153° na classificação do IDH, de 2004. *

Ainda neste dia, nos encontramos com trabalhadores em Ouanaminhthe, cidade das “maquiladoras”, empresas que exploram os trabalhadores o quanto podem, de forma análoga à escravidão. Chegamos a passar em frente de uma, a Codevi, mas isso fica para um próximo post, assim como as histórias do bloqueio de pontes por conta das chuvas e a falta de acesso à Internet. Até lá.



* Dados colhidos pela missão de solidaridade do Jubileu / Sul

sexta-feira, 29 de junho de 2007

Viagem a Cap-Haitien e a recepção calorosa dos trabalhadores

A nossa delegação saiu por volta das 8 horas da manhã (horário local), desta sexta-feira (dia 29), de Porto Príncipe em direção a Cap-Haitien. Havia muita expectativa entre os companheiros e companheiras que formam essa missão de solidariedade e, acima de tudo, luta pela retirada das tropas brasileiras do país.

Foram 230 quilômetros de estradas esburacadas, sete horas de uma cansativa viagem e imagens que marcam: crianças em condições miseráveis, pessoas tentando ganhar algum dinheiro vendendo coisas ou alimentos na rua, famílias tomando banho nos rios, lavando suas roupas neles e o esgoto a céu aberto muito próximo às moradias locais.

Em alguns momentos, o contraste ficou por conta da visão de grandes mansões e o belíssimo Mar do Caribe.

Apesar da grande situação de pobreza, fruto da exploração capitalista, algo é comum no rosto do povo haitiano. Invariavelmente, nas suas feições, demonstra-se uma alegria que parece-me inexplicável.

É um povo lutador, sem margem de dúvida. Creio que sua história deve servir como exemplo aos brasileiros. A própria expressão que eles utilizam quando perguntados como estão revela muita coisa. “Nap kenbe fein”, dizem eles. Na tradução para a língua portuguesa, seria algo como “estamos resistindo firmemente”.

No desviar dos buracos da estrada, vimos várias bases da Minustah, a missão da ONU que, sob o comando do Brasil, oprime este povo.

Das janelas do ônibus, cada membro da delegação teve a sua própria experiência com a triste face da pobreza. A minha foi a de olhar nos olhos das crianças à beira do caminho. Um olhar penetrante, que, embora muito receptivo, denuncia o que é desigualdade.

ENCONTRO COM OS TRABALHADORES
Na chegada a Cap-Haitien, um auditório, tomado por 400 trabalhadores, esperava a chegada de nossa delegação. Os companheiros, vínculado à organização “Batalha Operária”, nos recebeu com cantos operários.

Um deles, em creole (língua da maioria do povo), dizia: “Saudações. Aqui não tem patrão. Aqui não tem burguês”.

Trabalhadores rurais, sem-terra, do setor de educação e de empresas como a Coca-Cola e a cervejaria Prestigie formaram o público que tão calorosamente nos recebeu. Toda a delegação foi apresentada. A “Carta ao Povo do Haiti”, documento que se opõe a ocupação militar comandada pelo Brasil, foi lida e muito aplaudida pelos presentes.

No final do encontro, quase ao anoitecer, os trabalhadores brasileiros e haitianos dançaram juntos ritmos haitianos.

(Foto: Rodrigo Correia)

Delegação atravessará o Haiti rumo à cidade da vitória da revolução negra

Nesta sexta, a delegação da Conlutas começa uma viagem dentro do Haiti, para conhecer mais de sua história, sua gente lutadora e a exploração capitalista na nação mais pobre das Américas.

Já foi combinado que saíremos por volta das 6 horas da manhã, do horário local, rumo a Cap-Haitien, que fica na costa norte do Haiti. Cap-Haitien, que significa “Cabo Haitiano”, é a segunda maior cidade do país.

Para chegar até lá, saíremos de onde estamos, a capital Porto Príncipe, e atravessaremos o país.“Serão pelo menos cinco horas de viagem”, nos alerta Didier Domenique, da organização local “Batalha Operária”, que nos recebe nesta viagem de solidariedade.

No caminho, vamos parar para conversar com os trabalhadores rurais e conhecer de perto um pouco de sua realidade. Nas janelas do ônibus, emprestado pela universidade da capital, veremos imagens de um povo que carrega no seu DNA as características de guerreiro e lutador.

Não sabemos como será o acesso à telefonia nem tampouco à internet em Cap-Haitien. Se já estamos com imensa dificuldade em alimentar o blog por questões estruturais em Porto Príncipe, pode ser que o desafio seja ainda maior nos próximos dias. Por isso, se o blog demorar a ser atualizado, entendam nossa dificuldade, companheiros e companheiras.

ProgramaçãoNa sexta à tarde, já em Cap-Haitien, devemos falar com os trabalhadores em um auditório da cidade.

No sábado, vamos à “Citadelle”, forte construído pelos escravos depois da revolução de 1804. No mesmo dia, vamos à zona franca de Ouanaminthe. Lá, veremos a realidade dos trabalhadores que são explorados de forma análoga à escravidão. Nas zonas francas, funcionam as chamadas “maquiladoras”, multinacionais que recebem grande isenção de impostos e, em contrapartida, não oferecem aos seus trabalhadores quase nenhum direito trabalhista. Pelo contrário: são recorrentes os relatos de casos de agressão de trabalhadores, inclusive gestantes, e perseguição violenta aos líderes sindicais.

Este, na verdade, é o grande projeto que a ocupação militar da ONU quer perpetuar: tornar o Haiti uma grande zona franca, com mão-de-obra miserável e muitos lucros aos grandes capitalistas.

Na noite de sábado, deveremos voltar à Porto Príncipe.

Até breve (faltam poucas horas para partirmos)!

quinta-feira, 28 de junho de 2007

Delegação diz ao presidente do Haiti que tropas devem deixar o país

Foi no Palácio Nacional do Haiti, na manhã desta quinta-feira, que ocorreu a reunião entre a delegação da Conlutas que visita o país e o presidente do Haiti, Réne Préval.

Entregamos ao presidente a "Carta ao Povo do Haiti", documento que pede a saída das tropas estrangeiras, sob o comando do exército Brasil, do país caribenho.


Preval chegou a agradecer a solidariedade, mas citou que a presença das tropas seria algo necessário por conta da presença do narcotráfico no país.


Nossa delegação expôs nossa profunda discordância com o líder haitiano. Citamos a violência que é cometida contra a população nas ações militares da Minustah e criticamos o "pano de fundo" da ação militar chancelada pela ONU: a questão da exploração de mão-de-obra barata, análoga à escravidão, em favor de empresas transnacionais.


O presidente Réne Préval, em alguns momentos, mostrou certa dose de ironia frente as declarações dos componentes da delegação. Em um momento inusitado, o presidente surpreendeu a todos quando se escondeu embaixo da mesa, numa espécie de brincadeira que ninguém entendeu.


"O mais importante deste encontro é que foi dito ao presidente do Haiti que queremos a saída das tropas estrangeiras do país. Também deixamos claro que a nossa solidariedade não é a ele, o presidente do país, mas ao povo que está lutando contra essa ocupação opressora", afirmou Eduardo Almeida, membro da delegação e da direção nacional do PSTU.

Presidente do Haiti recebe delegação da Conlutas neste momento

Neste momento está acontecendo, no Palácio Nacional do Haiti, uma reunião da delegação da Conlutas que visita o país e o presidente Réne Préval.

A comitiva brasileira está apresentando argumentações contra a presença das tropas estrangeiras, lideradas pelo Brasil, que atualmente ocupam o Haiti.



O coordenador da delegação, Antonio Donizete Ferreira, acabou de entregar a "Carta ao Povo Haitiano" ao presidente Préval. O documento pede a saída do exército estrangeiro no país mais pobre das Américas.O encontro com o presidente segue.


Outros membros da delegação estão reunidos, também neste momento, com ministros do governo haitiano.

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Conlutas encontra-se com presidente do Haiti nesta quinta

Nesta quinta-feira, a delegação da Conlutas, que pede a saída das tropas brasileiras do Haiti, se encontra o presidente do país, René Préval. O encontro está previsto para as 9 horas, no horário local.


Também serão realizados encontros com o primeiro ministro do Haiti e ministros de Assuntos Sociais e do Trabalho e do Comércio e Indústria. 


Por conta das reuniões simultâneas a delegação deverá se dividir.

A delegação entregará ao presidente Préval a "Carta ao Povo Haitiano", que exige a retirada da força militar que oprime a população do Haiti.

Estudantes e professores haitianos recebem delegação

Na tarde desta quarta-feira, a delegação da Conlutas e de outras entidades teve um encontro com os estudantes e professores da Universidade do Estado do Haiti.

Neste encontro, o decano da universidade saudou os componentes que visitam o país e se posicionou a favor da luta pela retirada das tropas estrangeiras da nação mais pobre das Américas.

Junto com o professor, foi montada uma mesa de debate composta pelo coordenador da delegação e membro do PSTU, Antonio Donizete Ferreira, a dirigente nacional do PSOL Janira Rocha e o universitário Leandro Soto, que é da Conlute (Coordenação Nacional de Lutas dos Estudantes).

Aproximadamente 150 estudantes haitianos, de vários cursos, tomaram boa parte das dependências do auditório da universidade. Houve muitos aplausos para as intervenções dos membros da delegação.

Durante o encontro, todos os delegados foram chamados ao palco para serem apresentados aos universitários haitianos.

“Esta ocupação das tropas brasileiras e internacionais no Haiti só interessa aos grandes capitalistas, que querem lucrar ainda mais com a exploração do povo haitiano”, afirmou Leandro Soto, em sua apresentação, que foi traduzida para o creole (língua da maioria do povo) pelo companheiro Didier, da “Batalha Operária”.

Vários estudantes e professores haitianos seguiram na mesma linha: criticaram a presença das tropas de ocupação em seu país.

Confira áudio-matéria da reunião da delegação com o embaixador e o comandante da Minustah

A reunião com o embaixador brasileiro no Haiti, Paulo Cordeiro de Andrade Pinto, e o comandante das tropas da Minustah (missão que ocupa o país haitiano), general Carlos Alberto dos Santos Cruz, terminou por volta das 13 horas, horário local*.

Clique aqui e baixe a "áudio-matéria" deste encontro, no qual reiteramos veementemente nossa posição pela retirada das tropas brasileiras e internacionais do Haiti.

*Em comparação com o Brasil (horário de Brasília), o Haiti tem duas horas a menos.

Membros da delegação pedem a saída das tropas em reunião com embaixador e comandante da Minustah

A delegação da Conlutas e outras entidades está reunida neste momento com o embaixador brasileiro no Haiti, Paulo Cordeiro de Andrade Pinto, e com o comandante da Minustah (missão da ONU que ocupa o país), general Carlos Alberto dos Santos Cruz.

Estamos na sala em que acontece a reunião e utilizamos o sistema de rede da própria embaixada através do notebook da equipe de imprensa.


No encontro, também estão presentes a embaixatriz e outros militares brasileiros.

O advogado e um dos coordenadores da delegação, Antonio Donizete Ferreira tomou a palavra e expôs a posição do grupo contrária a presença das tropas brasileiras para “oprimir o povo haitiano”.

Outras pessoas criticaram a violência do exército principalmente nas incursões nos bairros pobres e até os casos de estupros cometidos pelos próprios militares.

"Até tenho a percepção de que o comandante da tropa não manda os soldados matarem os pobres e estuprarem as mulheres. Mas a realidade é que isso está acontecendo. Por isso, defendemos a saída imediata das tropas que ocupam o Haiti", disse Janira, integrante da delegação e da direção nacional do PSOL. 


A reunião prossegue neste momento.

terça-feira, 26 de junho de 2007

Conlutas e “Batalha Operária” firmam compromisso de luta

No primeiro dia da visita da delegação ao Haiti, o compromisso foi com a Batay Ouvriye (“Batalha Operária”, na tradução para o português), entidade que recebe os 20 delegados brasileiros.

Na chegada ao aeroporto de Porto Príncipe, capital do Haiti, os membros da “Batalha” já nos aguardavam. De lá, pegamos um micro ônibus emprestado de uma universidade da região, que nos levou até o local da reunião.

No trajeto, já pudemos perceber a dura realidade do povo haitiano. Nas moradias precárias, nos veículos antigos e remendados e na imagem de crianças, adultos e velhos tentando ganhar algum dinheiro no comércio ambulante, vemos o rastro da usurpação provocada pelo capitalismo neste país.

Na reunião com os dirigentes da “Batalha Operária”, trabalhadoras e trabalhadores de várias categorias relataram o quadro de exploração vigente no país, perpetrado pela presença imperialista das tropas da ONU, sob o comando do exército brasileiro.

“Estamos muito felizes em receber a delegação de vocês”, disse Jorge, um dos dirigentes da organização. “Precisamos fazer uma luta conjunta com a Conlutas. Quando vocês tiverem alguma mobilização no Brasil, nos comuniquem para que possamos deixar nosso protesto na embaixada brasileira aqui no Haiti”, propôs.

O relato dos trabalhadores haitianos se deu com a colaboração de Jorge e Didier, outro componente da direção do movimento, que traduziam os depoimentos de ora francês ora creole (língua falada pela maioria da população) para um espanhol compreensível aos ouvidos brasileiros.

Um dos momentos mais intensos do encontro foi quando Didier leu a “Carta ao Povo Haitiano”, documento assinado pela delegação e por vários dirigentes políticos e de movimentos populares, sociais e de direitos humanos (Leia a carta aqui). A leitura do documento foi motivo para um efusivo aplauso dos participantes da reunião.

“Queremos sim fazer mobilizações conjuntas, apoiar e colaborar para intensificar a luta valorosa do povo haitiano contra a ocupação das tropas estrangeiras comandadas pelo governo brasileiro”, disse Antonio Donizete Ferreira, o Toninho, em nome da delegação, às cerca de 50 pessoas presentes.

(fotos: Wladimir de Souza)

Primeiras impressões do Haiti

É claro que se pode aprofundar-se muito sobre o Haiti nas leituras de relatórios, livros e documentos, mas a experiência de ter o contato pessoal com um povo tão lutador num país tão cheio de contradições é muito singular.

Andando pelas ruas da capital temos a visão de uma multidão de pessoas procurando maneiras para enfrentar a pobreza e o profundo quadro de desemprego. Quase tudo está à venda nas mãos dos ambulantes. É chocante ver tantas crianças disputando um espaço para vender balas e doces nos semáforos. Pode até ser algo que vemos em São Paulo, mas aqui o número dos pequenos é muito maior.

O trânsito nas ruas de Porto Príncipe é “bem agitado”, se assim poderíamos dizer. Os motoristas insistem no toque irritante da buzina para quase qualquer gafe ao volante. Nas praças e nas ruas, o número de negros e negras, maioria absoluta da população, é enorme. É como se nas ruas estivesse passando, no carro do corpo de bombeiros, a seleção haitiana campeã da Copa do Mundo.

No trajeto aos locais de hospedagem da delegação, vemos um sem número de casas amontoadas morro acima. Ao anoitecer reparamos que nenhuma daquelas moradias tinha luz. Entendemos melhor a situação quando vimos que em nossos aposentos os geradores é que proporcionavam a iluminação necessária para as atividades noturnas.

Enquanto nós fazíamos artigos ou tratávamos fotos no Photoshop, do lado de fora o povo de Porto Príncipe, sem luz nas suas casas, saía às ruas, com velas acessas, num clima de bastante alegria. Sem dúvida, é um povo que merece muito a nossa admiração.
(fotos: Wladimir de Souza)

Delegação encontra-se com "Batalha Operária" ainda hoje

Estamos agora no Panamá, na escala que a delegação faz em direção ao Haiti. A conexão de Internet sem-fio liberada no aeroporto de Tocumen facilita o nosso trabalho. Os 20 membros da delegação enfrentarão pouco mais de duras horas de vôo para chegar a Porto Príncipe, capital haitiana.

Ao chegarmos ao nosso destino, deveremos ser recebidos pela organização Batay Ouvriye (Batalha Operária).

Ainda hoje, às 16 horas do horário haitiano, teremos um encontro com os membros dessa entidade, que devem contextualizar um pouco a situação do país.

Esperamos que o nosso próximo post já seja no Haiti.

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Delegação segue para o Haiti

Daqui a poucas horas a delegação da Conlutas e de outras entidades embarca rumo ao Haiti, numa expedição que durará uma semana. A expectativa de todos é grande para o destino do vôo 0758, da companhia Copa Airlines.

O objetivo da missão é o de conhecer a realidade do povo mais pobre das Américas e denunciar a ocupação militar (sob o comando do Brasil) e suas conseqüências.

A delegação é composta por 20 pessoas - entre sindicalistas, representantes dos movimentos estudantil e popular, aposentados e jornalistas. Cada qual carrega, além das bagagens, suas expectativas peculiares.

“Estou nervosa, à espera de ver a situação do Haiti. Acho uma experiência muito importante. Tenho tido contato com a realidade deste país desde o ano passado, quando realizei trabalhos para a universidade”, disse a estudante Sabrina Luz, de 26 anos, que é do diretório acadêmico da UFF (Universidade Federal Fluminense), do Rio de Janeiro.

“Fiz uma verdadeira campanha para poder participar dessa viagem. Recolhi contribuições de colegas e de professores. As doações começaram a partir de R$ 1”, revelou.

Alealdo Hilário, dirigente do Sindicato dos Petroleiros de Sergipe e Alagoas, tem a expectativa de trazer dessa viagem a experiência de conhecer de perto o que está por trás da ocupação das tropas brasileiras no Haiti. “Vamos nos aprofundar e detectar o projeto dessas forças que oprimem o povo haitiano”, afirmou.

Diretor da Admap (Associação Democrática dos Metalúrgicos Aposentados e Pensionistas) de São José dos Campos (SP), José Nunes, de 61 anos, também compõe a delegação.

“Espero encontrar um povo num estado de penúria. Queremos denunciar essa situação e exigir a saída das tropas que ocupam o país mais pobre das Américas”, comentou Nunes.

A delegação conta com um representante da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Aderson Bussinger, 44 anos, foi designado representante da entidade em seu conselho federal.

“Nossa expectativa é a de levar a solidariedade dos trabalhadores brasileiros ao povo haitiano, vitimado pela ocupação militar e pela extrema pobreza”, resumiu o advogado.

Fora tropas do Haiti!
Um dos coordenadores da delegação, Antonio Donizete Ferreira, o Toninho, comandou uma conversa com os componentes da viagem na sede da Conlutas, no Centro de São Paulo, antes da saída ao aeroporto de Guarulhos.

Ele ressaltou que a delegação tinha um objetivo claro, que é o de dizer em “alto e bom som” que aquela ocupação militar deve acabar e que o Brasil deve deixar o Haiti.

“Essa ocupação militar tem interesses claros do imperialismo, que se utiliza da miséria daquele povo para lucrar ainda mais. Um exemplo claro é a política de implantação de zonas francas, nas quais as chamadas “maquiladoras” (empresas multinacionais que não garantem direitos aos trabalhadores) se aproveitam da mão-de-obra extremamente pobre”, discursou Toninho.
(foto: Wladmir de Souza)

Conheça a "Carta ao Povo do Haiti" em três versões

Esta é a carta que a delegação vai entregar às autoridades haitianas e à população local. Mais abaixo, confira as versões em creole (língua mais falada no país) e francês (idioma oficial). O documento foi assinado por centenas de organizações e lideranças dos movimentos sindical, popular e de direitos humanos. Confira:

CARTA AO POVO DO HAITI

“Nenhum povo pode ser livre se oprime outro povo.”

Mais uma vez, o Haiti está sendo ocupado, agora, por tropas latino-americanas. São países oprimidos oprimindo um povo ainda mais oprimido.

Debaixo do falso manto da defesa da democracia, impõe-se a opressão, a exploração,
a miséria, manchando o solo de vosso país com sangue de vossa gente.

Na realidade, uma intervenção que fere a soberania de vosso povo, permitindo
ao imperialismo explorá-lo ainda mais e transformar o território haitiano em uma
plataforma de exportação dos produtos das empresas multinacionais.

O governo brasileiro de LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA detém o comando das tropas
militares neste território, cumprindo assim um nefasto papel de agente do imperialismo
opressor. Os trabalhadores e o povo brasileiro não respondem por este crime.

Ao contrário, ao heróico povo haitiano, que protagonizou a primeira e única revolução
de escravos vitoriosa, a primeira nação a conquistar a independência na América
Latina, que com bravura enfrentou tantas ditaduras em sua História e que acolheu
Simon Bolívar fortalecendo seus ideais de liberdade, queremos dizer que:

Estaremos juntos na luta pela desocupação do vosso território e seremos
mais que solidários, pois somos parte de uma mesma luta.
Embora à distância, travamos uma única batalha contra a colonização
imperialista.
Acreditamos, como Sandino, que Liberdade não se pede, se conquista...

Nós, que assinamos esta carta, estamos no teatro de operações, somos parte
deste cenário. Partilhamos as angústias e os sofrimentos do vosso povo e também
nos somamos na trincheira da resistência, da busca da autodeterminação de nossos
povos.

Sonhamos o mesmo sonho de liberdade.
A vossa luta é a nossa luta, a vossa vitória é a nossa vitória, a
liberdade de um povo é motivo de júbilo em toda a humanidade.

Pela imediata retirada das tropas brasileiras e de outros países do Haiti.
Pela autodeterminação do povo haitiano

______________________ * _____________________
versão em creole:

LÈT POU PÈP PEYI D AYITI

"Pyès pèp pa ka viv lib si l ap oprime lòt pèp"
Yon lòt fwa ankò, men y ap okipe peyi d Ayiti. Men, jounen jodi a, se twoup peyi Amerik Latin menm k ap okipe l. Yon peyi ki tou deja oprime ap oprime yon lòt ki pi mal pase l.

Anba fo pretèks ‘demokrasi’, peyi latino ameriken yo ap oprime pèp ayisyen an, y ap esplwate l, y ap mete l nan piplis mizè, pandan y ap foule tè peyi d Ayiti, pandan y ap fè san pèp lan koule.

Lè nou gade byen, entèvansyon sa a, se pèmèt li la pou pèmèt enpeyalis yo esplwate pèp la pi byen e transfòme teritwa peyi d Ayiti an yon platfòm pou espòtasyon pwodyi ki pral fèt nan faktori miltinasyonal yo.

Se Gouvènman LUIZ INACIO LULA DA SILVA ki alatèt kòmandman militè k ap okipe teritwa sa a. Nan sa, l ap jwe yon wòl negatif: se yon ajan enpeyalism lan. Travayè ak pèp brezilyen an pa responsab pou krim sa a.

Okontrè, n ap di ewoyik pèp ayisyen an, sila ki reyalize premye, sèl, e inik revolisyon esklav ki pòte laviktwa, premye pèp ki endepandan nan Amerik Latin lan, pèp sila ki fè fas kare devan sitèlman diktati nan listwa l e ki te akeyi Simon Bolivar e ranfòse lide libète l yo:

N ap ansanm avèk nou nan lit pou fòse militè l ONI yo kite teritwa nou an, e n ap plis pase solidè, paske nou tout se menm lit lan n ap mennen.
Malgre distans lan, nou tout n ap mennen menm lit la kont kolonizasyon enpeyalis lan.
N ap di anfen, tankou Sandino te di l: la Libète, yo pa bay sa, se pran pou nou pran l.

Nou menm ki siyen lèt sa a, nou menm tou nou nan teyat operasyon yo, mou menm tou nou fè pati sèn lan. Nou gen menm angwas, menm soufrans ak pèp ayisyen an e nou menm tou nou nan menm batay la, nan menm rezistans lan, nan menm goumen n ap goumen tou pou jwenn otodetèminasyon pèp pa nou an.

N ap reve menm rèv libète an.
Lit pèp ayisyen, se lit pa nou tou. Laviktwa pèp ayisyen ap laviktwa pa nou tou. Libète yon pèp se rejwisans pou tout pèp sou latè.

Fòk twoup brezilyen yo kite peyi d Ayiti san pèdi tan!
Fòk pèp ayisyen rejwenn otodetèminasyon l klèman!


______________________ * _____________________
versão em francês:
LETTRE AU PEUPLE HAÏTIEN
"Aucun peuple ne peut être libre s’il opprime un autre."
Voici qu’encore une fois Haïti est occupée! Mais, cette fois-ci, ce sont des troupes latino américaines qui s’en chargent. Un pays opprimé opprime un autre qui l’est encore plus.
Sous une fausse couverture de "défense de la démocratie", il impose une oppression, une exploitation, une misère, salissant le sol de votre pays avec le sang de vos gens.
En réalité, cette intervention foule au pied votre souverainneté, dans le but de permettre à l’impérialisme d’exploiter les travailleurs et transformer le territoire haïtien en une platteforme d’exportation des produits des entreprises multinationales.
Le gouvernement de LUIZ INACIO LULA DA SILVA, a le commandement des troupes militaires internationales sur ce territoire, accomplissant ainsi un rôle néfaste d’agent de l’impérialisme oppresseur. Les travailleurs et le peuple brésilien ne répondent pas de ce crime.
Au contraire, à l’héroïque peuple haitien, premier et unique à avoir réalisé une révolution d’esclaves victorieuse, premier également à avoir conquis son indépendance en Amérique Latine et qui, avec bravoure, a fait face à tant de dictatures durant son Histoire et a accueilli Simon Bolivar, renforçant ses idées de liberté, nous disons:
Nous serons avec vous dans la lutte pour la désoccupation de votre térritoire, et nous serons plus que solidaires, car nous sommes tous partie d’une même lutte.
Quoiqu’à distance, nous menons tous une seule et même bataille contre la colonisation impérialiste.
Avec Sandino, nous pensons que la liberté ne se demande pas, elle se conquiert... 
Nous, sous signés, nous sommes sur le téâtre des opérations, nous sommes partie de cette scène. Nous partageons les mêmes angoisses, avons avec vous les mêmes souffrances et nous sommes également à l’intérieur des tranchées de résistance, à la recherche de l’auto détermination de nos peuples.
Nous partageons le même rêve de liberté.
Votre lutte est notre lutte, votre victoire sera la nôtre: la liberation d’un peuple est motif de réjouissance pour l’humanité entière.
Pour le retrait immédiat des troupes brésiliennes d’Haïti.
Pour l’auto détermination du peuple haïtien.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Haiti: três anos de ocupação, miséria e sofrimento

Por Antônio Donizete Ferreira

Em junho de 2004, soldados brasileiros deixaram suas famílias no Brasil e desembarcaram no Haiti, acreditando estarem contribuindo com a estabilização da crise sócio-política surgida desde a deposição do então presidente Jean Aristide. No entanto, a ação militar brasileira, que reúne o maior contingente desde a Segunda Guerra Mundial, tem interesses muito mais profundos e obscuros do que melhorar a vida dos haitianos.

O Haiti foi o primeiro país latino-americano a conquistar sua independência. Seu povo protagonizou a primeira e única revolução de escravos vitoriosa no mundo. Mas esta ousadia jamais foi perdoada pelos países colonialistas que, ao longo da história, ocuparam sistematicamente o país, sufocando seu desenvolvimento econômico.

Hoje, o Haiti é o país mais pobre das Américas. O levantamento das Nações Unidas mostra uma população jovem, negra e praticamente analfabeta. Aproximadamente 60% dos adultos não têm instrução primária e mais da metade das crianças não freqüentam escolas. Além de deter os piores índices de mortalidade infantil (125 mortes por mil crianças nascidas), é o maior indice de infecção por Aids do hemisfério. Cerca de 80% da população deste país vive abaixo da linha da pobreza.

Nesses três anos de intervenção militar liderada pelo Brasil, a vida do povo haitiano não melhorou. Existem várias denúncias de uso indiscriminado de violência por parte das tropas de ocupação, incluindo agressões e assassinatos. A situação das mulheres é ainda pior, com denúncias de estupros e assédios realizados por soldados estrangeiros na capital Porto Príncipe.

Essas denúncias de violência gratuita, estupros e assassinatos nos remetem à guerra do Iraque. Não faltam imagens de marines assassinando civis iraquianos. Há uma outra característica entre os dois países. Quando George W. Bush decidiu invadir o Iraque, seus motivos também não estavam muito claros, falavam de armas químicas (que nunca foram achadas), depois de democracia e agora está claro: a guerra do Iraque é uma verdadeira ocupação imperialista em busca de petróleo.

Algo idêntico ocorre na ilha caribenha. O imperialismo pretende transformar o país em uma plataforma de exportação, uma grande "zona franca", utilizando o trabalho do povo haitiano em condições análogas às da escravidão, através das empresas chamadas "maquiladoras", principalmente no setor de vestuário e artigos esportivos. Outro grande projeto é, em conjunto com o governo brasileiro, produzir nesta parte da ilha o etanol de que os EUA precisam.

Para conseguir este objetivo foi preciso reprimir os vários protestos que vinham e continuam acontecendo no país. Eles precisam de uma intervenção militar, camuflada sob a bandeira da paz e da democracia. Como as tropas americanas estão enterradas até o pescoço no Iraque, foi necessária a intervenção de outros países, seus sócios menores. E, neste momento, o governo Lula aparece como fiel escudeiro dos interesses imperialistas, mandando soldados brasileiros reprimirem o povo mais sofrido do continente.

Nesses três anos de ocupação, dezenas de entidades sindicais e da sociedade civil, como Jubileu Sul, o MST e a Conlutas, juntamente com várias entidades de direitos humanos, têm denunciado essa ocupação militar. O PSTU é parte deste movimento.

No dia 26 de junho, uma delegação brasileira de sindicalistas e representantes de entidades civis partirá para o Haiti com o objetivo de denunciar esta ocupação. Vamos levar nossa solidariedade à luta do povo pobre e oprimido daquele país pela sua autodeterminação. Queremos exigir do governo brasileiro a imediata retirada das tropas, pois a exploração do povo haitiano é a mesma que atinge o povo brasileiro.

Antônio Donizete Ferreira (Toninho) é dirigente do PSTU e membro da delegação que vai ao Haiti

Programação da delegação no Haiti

A delegação da Conlutas no Haiti vai realizar uma série de atividades, entre elas, encontro com o presidente e o primeiro-ministro do país. O grupo contará com o apoio da Batay Ouvriye (http://www.batayouvriye.org/), organização haitiana que luta pela soberania daquele povo e pelos direitos dos trabalhadores. Confira abaixo a programação, dia-a-dia:

Terça-feira, dia 26 de junho
12h00: Chegada da delegação ao Haiti.
16h00: Encontro com os dirigente da Batay Ouvriye, que é a entidade que vai receber a delegação.

Quarta-feira, dia 27 de junho
09h00:
 Encontro com embaixador brasileiro na Embaixada do Brasil.
10h00: Encontro com embaixadores da Argentina, Chile, Uruguai, Bolívia, Cuba e Venezuela, na embaixada brasileira.
12h30: Visita a uma “maquiladora”, empresa na qual os trabalhadores não têm direitos garantidos.
15h00: Encontro com a reitoria e professores da Universidade do Estado.

Quinta-feira, dia 28 de junho
09h00: Audiência com:
- Presidente da república;
- Primeiro-ministro;
- Ministro de Assuntos Sociais e do Trabalho;
- Ministro de Comércio e Indústria.
(a delegação será divida para cumprir a programação, pois as audiências serão em separado).

14h00: Visita ao Museu do Panteão Nacional.
16h00: Visita à Faculdade de Ciência Sociais, da Universidade do Estado.

Sexta-feira, dia 29 de junho
06h00: Viagem até Cap-Haitien (segunda maior cidade do país); no trajeto: encontro com trabalhadores rurais de várias regiões.
15h00: Encontro com dirigentes operários e rurais.
16:30: Encontro aberto dos trabalhadores e imprensa no auditório da cidade.

Sábado, dia 30 de junho
06h00: Subida a "Citadelle", fortaleza maior da vitória de 1804 contra a escravidão.
13h00: Chegada à "zona franca" de Ouanaminthe, onde os trabalhadores locais lutam contra ataques e demissões.
15h00: Encontro aberto com os trabalhadores dessa "zona franca".
17h00: Retorno a Cap-Haitien.

Domingo, 1º de julho 
06h00: Retorno à capital, Porto Príncipe.
15h00: Encontro aberto com trabalhadores e público em Cité Soleil.

Segunda-feira, dia 2 de julho
09h00: Coletiva de imprensa, com várias emissoras de TV e rádio.
15h00: Encontro com organizações de direitos humanos, de mulheres, de pastorais da Igreja, de representantes de alguns partidos políticos, de organizações e movimentos populares, personalidades e intelectuais.
19h00: discussões aprofundadas com convidados.

Terça-feira, dia 3 de julhoÚltimo dia da visita, com preparação para o retorno ao Brasil e produção de pré-relatórios ou documentos sobre a missão da delegação.

terça-feira, 19 de junho de 2007

Delegação da Conlutas e OAB vai levar solidariedade ao povo do Haiti

No dia 26 de junho, uma delegação de sindicalistas da Conlutas e representantes da OAB nacional inicia uma visita de uma semana ao Haiti. Desde 1º de junho de 2004, o país está sob a ocupação militar de tropas da ONU, comandadas pelo exército brasileiro.

Longe de cumprir um papel humanitário, a presença das tropas de ocupação representa uma intervenção que fere a soberania do povo haitiano. O objetivo da visita é levar solidariedade aos trabalhadores do Haiti e aumentar a pressão pela retirada das tropas.

Programação
No roteiro da delegação está programada uma audiência com o presidente e o primeiro-ministro do Haiti. O grupo vai entregar às autoridades haitianas um manifesto assinado por sindicatos, parlamentares e intelectuais que pede a saída das tropas brasileiras do país. A deputada federal Luciana Genro (PSOL) e o professor Plínio de Arruda Sampaio já manifestaram o seu apoio ao manifesto.

Uma coletiva de imprensa será realizada na Sede Nacional da Conlutas (em São Paulo), no dia 25 de junho, às 15 horas (Pça. Padre Manoel da Nóbrega, 36 / 6º andar, SP).